Como é ter depressão e/ou ansiedade? Uma visão do negócio
Esse assunto já sofreu tantas distorções por aí que é foda falar sobre isso sem ter que pisar em ovos, e sem despertar a fúria de milhões de histéricos que se guiam por tirinhas do Facebook. "Tá aí uma coisa que ninguém entende" e taca tirinha do Facebook. É deprimente. Comecemos do início.
A depressão e a ansiedade podem ter duas facetas: elas podem ser uma disfunção química do cérebro, fazendo com que sua consciência sinta ou não sinta coisas que não deveria sentir ou que deveria, respectivamente. Pra esses casos, existem remédios que devolvem as rédeas do espírito ao próprio espírito. A segunda faceta é noológica, isto é, pertencente ao espírito (pausa: "EU NÃO ACREDITO NESSE NEGÓCIO DE ESPÍRITO". Leia as seis décadas de textos de Viktor Frankl, onde ele explica o conceito de espírito cientificamente. Basicamente, é essa voz na sua cabeça). Doenças noológicas não podem ser vencidas pela química, já que não pertencem ao mundo material, ou então ainda não descobrimos como funciona a "química" do mundo espiritual. Elas só podem ser vencidas pelo Logos, pela lógica, e a partir daí foi criada a logoterapia. A terapia da lógica. No caso da ansiedade, por exemplo, temos um aprofundamento dela (tanto faz se a primeira ansiedade começou no cérebro ou no espírito), que se chama ansiedade antecipatória, onde a pessoa tem a crise de ansiedade, fica com medo de ter outra e cria uma ansiedade de ter ansiedade, estabelecendo assim um ciclo vicioso de ansiedade que só se amplifica e leva a ansiedades extremas como síndrome do pânico. E o único jeito de destruir esse ciclo vicioso, que tem seu mecanismo e comportamento obedecendo uma lógica auto-imposta mais ou menos subconscientemente (ou então depois tornada subconsciente em um processo de auto-destruição da conscientização por decisão da própria consciência) é pela lógica, pela logoterapia.
É claro que, ao perceber isso, o leitor ficará ansioso pra sair curando todas as pessoas pela lógica. Não é bem assim. O princípio do remédio nos dá a dica: não tente curar o que você não conhece. Já existem especialistas nisso que primeiro vão estabelecer onde está a doença, e depois vão estabelecer o modo correto de traçar o caminho pra cura. Tendo estabelecido isso, vamos ao próximo ponto.
As porras de tirinha do Facebook. Uma delas, que já compartilhei numa página de tirinhas só pra ganhar compartilhamentos, confesso (me policio pra abandonar tal prática), mostra várias pessoas com doenças terminais diante de outras dizendo que era só frescura ter um câncer terminal, colocando o depressivo, o ansioso e a pessoa que se depara com uma doença mortal do nada no mesmo patamar. Se você analisar com boa fé, verá que a tirinha não consegue chegar em ponto nenhum, ela para no máximo em "as pessoas com depressão e ansiedade são tão vítimas quanto as que têm câncer terminal vamos ser legais não é frescura". A comparação por si só é ridícula, se em um caso a vontade de viver vai se esvaindo psico ou noologicamente, na outra você tem que lidar com o fato de que vai morrer mesmo querendo muito viver. Se na depressão ainda temos uma luta (a não ser que o infeliz, no sentido pleno da palavra, se mate), no câncer terminal é o adeus, o fim, o corpo agonizando e vendo ele mesmo morrer. De nada ajuda uma comparação irreal que no fim serve apenas pra pagar de legalzão pros seus amigos no Facebook. Seu ego não está no centro do universo, embora pra você, que faça isso, pareça.
Em terceiro lugar ("ai, que texto longo" - vai cair a mão se você der scroll pra ver a tirinha?) temos as pessoas que simulam uma depressão quando na verdade estão tristes, ou desmotivadas, ou qualquer merda, abatidas, sei lá, essas coisas que acontecem na vida de todo ser com cérebro. Até peixe deve ficar abatido. Essas pessoas, abatidas, covardes e oportunistas, se aproveitam dessa onda de coitadização do depressivo que querem que a tristeza passe com essa complacência simulada que justamente essa onda passou a obrigar as pessoas a fazerem pra não serem vistas como más. Essas pessoas não sabem, ou se aproveitam de que muitas não sabem, de que a depressão não traz essa tristeza azul de quando você chora no travesseiro porque não foi correspondido amorosamente. Assim como a ansiedade antecipatória, ela traz uma tristeza antecipatória e sem gosto por conta da falta do sentir. Ao se tornar incapaz de ser feliz e ser triste e de sentir e se aprofundar em todo o espectro de emoções humanas, tudo o que resta é um substrato pantanoso de algo que não podemos chamar bem de tristeza, mas de vazio inexplicável.
Em último lugar, o depressivo e o ansioso (quase sempre os dois juntos) sabem que essa(s) doenças se comportam como uma coisa que vai subindo e descendo sem obedecer bem um padrão. Tem hora que o negócio bate e parece que você é um paralítico lobotomizado, e tem hora que dá um surto de lucidez. O negócio é, em meio ao surto de lucidez, preparar tudo ou o máximo que der pra ir em direção à cura. Pesquisar, se informar, olhar a si mesmo, e força no bumbum. Todo mundo tem sua cruz, a sua é essa, e você precisa lidar com ela. "É fácil pra você falar" e difícil pra você fazer. Boa sorte.
Nenhum comentário: